Para quem ama adjetivos como eu

 

cora-coralina

“Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.”
                   Cora CoralinaMelhores Poemas

Desde criança, sempre gostei muito do adjetivo. A capacidade que ele tem de conferir características aos substantivos – boa ou ruim, não importa – e continuar sua vida agradando a gregos e troianos. Se fosse um personagem de novela, o adjetivo seria aquele cara que frequentaria todos os núcleos, falando bem e mal de todo mundo e, ainda assim, ficar legal na fita.

Como lemos nos belíssimos versos de Cora Coralina:
ao substantivo vida é atribuído a particularidade mesquinha.
E ela nem reclama, veja você. 😮

Vestimentas do adjetivo
ou
com que roupa eu vou?

Na forma de se apresentar, o adjetivo muda conforme o gênero (masculino/feminino) ou número (singular/plural):
projeto mesquinho/vida mesquinha; projetos mesquinhos/vidas mesquinhas.

Bom lembrar que o adjetivo funciona como substantivo quando precedido de artigo (adjetivo substantivado): Os mesquinhos não merecem elogios.

Bom lembrar também que um substantivo precedido de preposição caracteriza outro substantivo, tornando-se uma locução adjetiva (locução: mais de uma palavra representando uma só).

  • Um amor de verão (estival)

– de verão (substantivo precedido de preposição/locução adjetiva) representa um adjetivo só (estival). Abaixo, mais exemplos:

  • Descontrole de paixão (passional)
  • Água de chuva (pluvial)
  • Cordão de prata (argênteo)
  • Filme de criança (infantil)
  • Homem sem piedade (impiedoso)

Além de adjetivo, ainda é composto!
Vejamos seus plurais:

 Os adjetivos compostos só variam no segundo elemento, caso este seja também um adjetivo:

  • problema socioeconômico
    (econômico é adjetivo, portanto, problemas socioeconômicos)
  • Camisa azul-clara
    (clara é adjetivo, portanto,  camisas azul-claras)

Mas, se o segundo elemento for um substantivo, não varia:

  • Bolsa verde-oliva
    (oliva é substantivo, então, bolsas verde-oliva)

Nesse mesmo exemplo, incluímos os adjetivos formados pela palavra cor + um substantivo:

  • Olhos cor de rosa

Não se flexionam os adjetivos:

  • azul-marinho – ternos azul-marinho
  • azul-celeste   – chapéus azul-celeste
  • furta-cor         – tecidos furta-cor
  • ultravioleta    – raios ultravioleta

Atenção: o adjetivo composto surdo-mudo varia nos dois elementos

  • surdo-mudo – crianças surdas-mudas

 

Beleza?
Beijo e boa sorte. 🙂

 

 

 

 

 

 

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Vamos falar de substantivo?

Grande Sertão Veredas

“Só, e no mais: sem ti, jamais nunca — Minas, Minas Gerais…”
                                        Guimarães Rosa (fonte: pensador.uol)

Substantivo é um cabra macho que aponta todo tipo de ser, como pessoas, coisas, divindades… e muda conforme o gênero (masculino/feminino) e número (singular/plural). Funciona, na sintaxe, como base para outros termos ligados a ele, que o modifica: artigos, adjetivo e pronome, por exemplo.

Eis alguns substantivos: Pedro, Deus, bicicleta, árvore, Itália, beleza, matilha etc.

O substantivo é próprio quando especifica um único elemento de um conjunto.
Marcela (único elemento do conjunto pessoas)
Minas Gerais (único elemento do conjunto estados)
Itália (único elemento do conjunto países)
Deus (único elemento do conjunto divindades religiosas – letra maiúscula)

Ele é comum quando indica qualquer elemento de um conjunto da mesma espécie.
aluno (um aluno qualquer entre outros)
país (não especifica se é Brasil ou França)
estado (não especifica se é São Paulo ou Rio de Janeiro)
árvore (uma árvore qualquer entre outras)
deus (não especifica o Deus religioso: deus do vinho, deus da informática – letra minúscula)

Há também o substantivo comum coletivo que, no singular, dá nome a um conjunto de elementos.
povo (conjunto de pessoas que habita um país, uma região ou um continente)
século (conjunto de 100 anos)
tripulação (conjunto de pessoas que trabalham em um avião ou navio)
gabinete (dos ministros de Estado)
código (de leis ou normas)

O substantivo pode ainda ser concreto ou abstrato.
Quando possui existência própria, sem depender de outros, é concreto: fada, alma, lobisomem, estante, geladeira.
Quando confere qualidades, ações ou atributos aos seres, mas aparecem separados desses seres como se existissem de forma independente, é abstrato: beleza, maldade, destruição, sentimento.

Já quanto à forma, o substantivo é simples ou composto.
casa, pedra, diabo (um elemento só – simples)
pontapé, aguardente, guarda-chuva, além-mar (mais de um elemento – composto).

Beleza?
Beijo e boa sorte. 🙂

 

 

 

As várias facetas dos pronomes indefinidos

Machado

“Estas palavras de Madalena não valiam coisa alguma, nem mesmo como desculpa, porque a desculpa é fraquíssima.  Estevão compreendeu logo que havia algum motivo oculto. Seria o amor?” Machado de Assis – A mulher de preto (Contos Fluminenses).

Pronomes indefinidos relacionam-se à terceira pessoa gramatical de forma vaga e imprecisa. Quando vêm  ligados a substantivos, classificam-se como pronomes indefinidos adjetivos. Veja:

Alguns textos serão lidos depois.
Nenhuma mulher merece isso.
Estevão compreendeu logo que havia algum motivo.

Atenção: Os pronomes indefinidos ocorrem também como locução pronominal indefinida (locução é quando temos mais de uma palavra com um único sentido):
Cada um faz o que lhe dá na cabeça.
Cada qual ensina conforme aprendeu.
Quem quer que venha, não me vencerá
Seja quem for, será bem-vindo.
Seja qual for a nota, não me importarei.

O pronome indefinido algum, depois do substantivo, adquire sentido negativo, como podemos ler no texto de Machado de Assis. Mas se o colocarmos antes, passa a ter significado positivo. Confira:

…valiam coisa alguma (negativo)
valiam alguma coisa (positivo)

Após os substantivos, os indefinidos nenhum/nenhuma, algum/alguma não admitem plural. É errado, então, dizer “Mulheres nenhumas merecem isso” ou “Disputas algumas me interessam”.

Mas, se vierem antes, admitem! Nenhumas mulheres e Algumas disputas (corretíssimo).

Também não é correto usar cada (sozinho) no lugar de cada um.
Então o certo é dizermos “Comeram três barras de chocolate cada um” e não “Comeram três barras de chocolate cada”.

Antes do substantivo, certo é pronome indefinido; depois, adjetivo:

Certo rapaz me abordou de maneira desrespeitosa (pronome indefinido adjetivo).
Contrataram o rapaz certo para o cargo (adjetivo).

O pronome indefinido vários, geralmente usado no plural,  é correto também no singular: Vária espécie animal necessita de proteção.

Agora, abaixo, exemplos de pronomes indefinidos substantivos:

Algo aborreceu você, não?
Tudo o deixa irritado.
Quem sabe a matéria, não erra nunca.

Como costumo ensinar, percebemos que os pronomes indefinidos algo, tudo e quem (gramática) estão funcionando na oração como sujeito (sintaxe). Não estão ligados a substantivo algum. Não é à toa, então, serem carinhosamente apelidados de pronomes indefinidos substantivos. Beleza?

Qualquer informação a mais que precise, faça contato pelo valeriavianna@amigadaletra.com ou pelo facebook

Beleza?
Beijo e boa sorte. 🙂

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Demais ou de mais: fácil demais!

rita lee

“Como vai? Tudo bem
Apesar, contudo, todavia, mas, porém
As águas vão rolar, não vou chorar
Se por acaso morrer do coração
É sinal que amei demais”  Rita Lee – Saúde

Demais funciona como advérbio de intensidade. E os advérbios relacionam-se com verbo, adjetivo ou outro advérbio. No caso da letra de música acima, demais intensifica o sentido do verbo amei: “Amei demais”. Já no título da postagem, demais valoriza o adjetivo fácil: “Fácil demais!”

Outros exemplos:

Aquela roqueira canta demais (relação com o verbo cantar)
O ingresso era barato demais (relação com o adjetivo barato)
Os fãs chegaram tarde demais (relação com o advérbio de tempo tarde)

de mais é uma locução adjetiva e se opõe à expressão de menos. Relaciona-se com substantivos (em alguns casos, subentendidos) e com pronomes.

No festival, havia espectadores de mais e banheiros de menos.
Naquela escola, os professores têm obrigações de mais; os diretores, de menos.
Os bancos têm de mais; o trabalhador, de menos (substantivo “dinheiro” subentendido na oração).

Perceba que espectadores, obrigações e dinheiro são substantivos e, portanto, não podem ser acompanhados pelo advérbio demais, mas sim pela locução adjetiva de mais.

Exemplos com pronomes: alguém, algo, ninguém, tudo, cada, quem, nada etc.

Não vejo nada de mais em fazer topless.
Tudo de mais, enjoa.

Nada e tudo são pronomes. Não é verbo, adjetivo ou advérbio.

Para desfazer confusões, é sempre bom usar a lógica. Não há sentido dizermos “canta de menos”, “barato de menos” ou “tarde de menos”. Certo? Então, se ao opor as expressões, elas se tornarem absurdas, já sabe qual “demais” usar… 😉
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Outros casos:

Demais como adjetivo = outros
Só Valéria ficou chateada por não entrar no show, os demais fãs nem ligaram (ligado ao substantivo fãs).

Demais como pronome indefinido = o(s) restante(s), os outros
Esses ingressos são meus, eu ganhei! Quanto aos demais, que comprem.

Demais como conjunção explicativa = ademais, além disso
Chegou atrasado ao espetáculo; demais, o carro quebrou.
– ademais, o carro quebrou –
– além disso, o carro quebrou –

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