(…) “passarinho que se debruça – o voo já está pronto!”
Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas
O mesmo se dá quando estamos diante da tela em branco do computador para escrever. Como o passarinho que, ao se debruçar, o voo já está pronto, o nosso discurso também está prontinho para acontecer. Porque há palavras doidas para nascer e virar texto. E nós temos palavras de sobra em nossas cabeças: ô, se temos!
Quando eu cursava o ensino fundamental e pensava tanto em namorar quanto em pensar português, vez ou outra nas provas vinha a dúvida sobre se o verbo haver ia ou não para o plural. E claro que a dúvida sobre o verbo haver costumava vir junta e misturada às minhas dúvidas sobre se o André Luiz estava a fim de mim ou não.
Não estava. 😦
Tudo bem, passou. Sigamos.
Então, o verbo haver é impessoal (sem sujeito), não é a fim de namorar – prefere ficar na dele – quando vem na frase com o sentido de existir, acontecer ou de tempo passado:
Há palavras doidas (existem palavras doidas).
Há muitos anos que não vejo André Luiz (passou foi tempo, viu?)
Haverá muitas festas este ano (acontecerão muitas festas).
Mas se o sentido não for de existir, acontecer ou tempo passado, nas locuções verbais (mais de um verbo: auxiliar e principal) rola um namoro e ele passa a ser pessoal (com sujeito):
Haviam acendido as luzes.
Haviam consertado a lâmpada.
Mas não só nas locuções.
Quer ver outros exemplos em que ele é pessoal?
Haver no sentido de “obter”:
Houveram da professora a permissão para sair (obtiveram da professora).
Haver no sentido de “considerar”:
Nós o havemos um excelente diretor (nós o consideramos)
Haver no sentido de “comportar-se”:
Os convidados se houveram com educação na cerimônia (se comportaram bem)
Haver no sentido de “lidar”:
Os novos inspetores houveram bem com as turmas (lidaram bem).
De qualquer forma, tendo guardado na cabeça que o verbo haver não namora no sentido de existir, acontecer ou tempo passado, não haverá erros! Ou não acontecerão erros.
Beleza?
Beijo e boa sorte. 😉
Leia também no facebook